quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Vitrola – Maria Rita

Para criar qualquer coisa – inclusive um jantar harmonizado – é preciso apenas um ponto de início, uma faísca qualquer que vá crescendo e tomando conta. Esse início pode ser qualquer coisa. Geralmente é um ingrediente ou um prato. Às vezes são os vinhos que harmonizarão com os pratos. Pode ser um tema qualquer.

No caso do Vitrola, nosso jantar parte da trilha sonora. O que seria mero complemento, um simples detalhe, pode dar origem à um jantar completo, com seus vinhos, decoração e convidados. A música, nesse caso, dá o tom do jantar inteiro. Convido vocês agora para um teste, uma brincadeira: montar um jantar à partir de um álbum.

Vamos começar?

Maria Rita Para facilitar, partiremos de um álbum de música brasileira, alguém já consagrado, mas da nova geração da MPB. O álbum será o Maria Rita, primeiro da cantora homônima, filha de Elis Regina e César Camargo Mariano.

O álbum alterna músicas descontraídas e sérias, um som leve, agradável e harmonioso. Bem final de verão, início de outono, quando o calor vai pouco a pouco se rendendo ao frio, e o verde vai dando lugar aos tons de amarelo, laranja e vermelho. O que situaria esse jantar ali nos meados de março, temorada de chuvas, combinando bem com a música Santa Chuva. Temos um quando.

Para a decoração do ambiente, mantendo o tom leve, que tal seguir o bolero Dos Gardenias? São flores de primavera e verão que, além de bonitas, perfumam o ambiente. Vasos pequenos com gardênias, sobre uma toalha branca são um belo enfeite de mesa.

Gardênia

Para o cardápio, podemos viajar nas letras das músicas. Em Pagu, por exemplo, Maria Rita, brinca com a voz, cantando “Ratatá… Ratatatá…” Brincando assim, podemos pensar numa ratatouille, um prato rústico da região da Provence, na França.

A ratatouille é um ragout de legumes, onde não podem faltar tomates e berinjelas. Geralmente é preparada também com pimentões e abobrinha, sendo que há muitas receitas para esse prato. Sugiro a do saudoso Saul Galvão (Estadão), deliciosa e fácil de preparar. Também tenho uma receita própria, mas essa eu posto outro dia. Pode-se harmonizar essa ratatouille de outono com o espumante brut rosé Salton Poética.

Ratatouille

Para o prato principal, que tal pegar um trecho de Menininha do Portão?

“E eu pego a viola
Faço um verso feito um trovador…”

Podemos pensar em um prato feito com o peixe viola. Se for preparado à la belle meunière, melhor ainda. Meunière, do francês, é a trabalhadora de um moinho, sendo que há uma fábula na qual uma menina meunière transforma trigo em fios de ouro. Por isso, os pratos à meunière são empanados em farinha de trigo e, geralmente servidos com um molho preparado com manteiga. Pode acompanhar aspargos, champignons, alcaparras ou batatas salteadas. Ideal para um vinho branco como o Salton Volpi Chardonnay.

Viola à Meunière

Para a sobremesa, um trecho de Não Vale a Pena, nos dá uma idéia excelente de sobremesa:

“Sobrou meu velho vício de sonhar…”

Para curtir a sobremesa com gostinho de infância, Sonhos. Ou como são chamados em Portugal, Bolas de Berlim. Para ficar leve e saboroso, basta uma receita tradicional de sonho, preparado em porções mini e com raspas de laranja na massa, coberto com açúcar e servido com uma calda de laranja. Harmoniza muito bem com o Salton Intenso, um vinho licoroso doce.

Berliner de Laranja 

Temos então um jantar harmonizado completo, com três pratos e três vinhos. Com data para acontecer, decoração e trilha-sonora. Só faltam os convidados. Que tal alguns bons amigos ou apenas a pessoa que você ama? E, quando jantar acabar e os convidados tiverem ido embora, é só aumentar o volume e cantar junto com a Maria Rita:

“Amor, veja bem
Arranjei alguém
Chamado saudade…”

Por que a saudade também é, por vezes, uma boa companhia pra jantar.

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